Editorial 36 - Politicamente incorreto
Advento: tempo que pede uma preparação teologicamente correta e politicamente incorreta.
O “politicamente correto” impõe às pessoas que não exteriorizem certas verdades porque supostamente as “crenças fundamentalistas”, quer dizer, aquelas que aceitamos como verdades imutáveis, provocam divisões.
No Advento, este erro doutrinário apresenta-se especialmente como um obstáculo à boa preparação espiritual e, portanto, como um inibidor das graças próprias à caminhada para o Natal. É da lógica elementar que uma adequada vivência do Advento requer a séria meditação sobre a malícia do pecado e a sua consequência possível, o Inferno, para onde vão aqueles que rejeitam definitivamente, por livre escolha própria, as graças sobrenaturais e a misericórdia de Deus.
Infelizmente, deixando-se influenciar pelo alarido do “politicamente correto”, setores da Igreja vão aos poucos silenciando sobre as últimas coisas que acontecem a cada ser humano, qual seja, a morte, o juízo, o inferno ou o paraíso. Esses “atualizados” preferem falar exclusivamente sobre “os lados positivos”, como a beleza do Natal. Mas, como entender a maravilhosa verdade de fé que é o Nascimento do Filho de Deus, se não estivermos convictos de que Aquele que se encarnou para nos salvar, assumiu sobre si o peso de nossos pecados e, oferecendo-se como Vítima que aplaca a justiça divina, nos devolveu a possibilidade de entrarmos no céu?
Na verdade, o silêncio que se faz sobre o juízo e o inferno subtrai ao fiel um instrumento utilíssimo de vida espiritual, porquanto embaça a compreensão das terríveis e verdadeiras consequências do mal. Não é possível retribuir adequadamente a Cristo, com nosso amor e gratidão, se não tivermos a clara convicção de que os méritos da Redenção nos proporcionam as condições para não cairmos no Inferno.
Por esta razão, Nossa Senhora de Fátima mostrou a três crianças inocentes a terrível visão do Inferno, assim descrita por Lúcia: “mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia estar debaixo da terra. Mergulhados nesse fogo, os demônios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronzeadas com forma humana, que flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas que delas mesmas saíam, juntamente com nuvens de fumaça, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das fagúlhas nos grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizavam e fazia estremecer de pavor”.