MARIA, MESTRA DA ORAÇÃO
Devemos rezar sempre, e nunca deixar de fazê-lo (Lc 18, 1), aconselha-nos Jesus no Evangelho. O próprio Redentor deu-nos exemplo disso, retirando-se constantemente para algum lugar afastado a fim de se dirigir ao Pai. E, para mais nos encorajar nessa prática indispensável para nossa salvação, deixou-nos outro augusto modelo de alma orante, uma mestra da oração: a sua e nossa Mãe Santíssima, Maria.

Toda nossa salvação está na oração, afirma Santo Afonso de Ligório. Quem reza, obtém as graças e se salva, ao contrário de quem não reza.
Uma comparação tirada do nosso cotidiano bem nos mostra o quanto devemos nos preocupar com nossa vida de piedade e de oração. Quando, ao visitarmos a despensa de nossa casa, percebemos que falta ou pode vir a faltar algum mantimento indispensável para o nosso sustento, tratamos logo de comprar e reabastecer a dispensa. Não deixamos faltar, pois sabemos que aquele alimento é importante para a nossa sobrevivência.
Assim também, e com maior propriedade, a oração é o alimento da alma, muito mais indispensável e necessário do que são aqueles para o corpo. Não podemos deixar que falte esse mantimento na dispensa da nossa alma.
Outro grande doutor da Igreja, Santo Agostinho, nos ensina que Deus, que nos criou sem nós, não nos salvará sem nós. Ou seja, temos de pedir as graças necessárias para nos salvar, é preciso rezar e recorrer a Deus sempre, pois é assim Ele dispôs: “Pedi e recebereis, buscai e achareis, batei e vos será aberto”, “pedi tudo o que quiserdes e vos será concedido”, nos promete Jesus no Evangelho. Mas, a condição para receber é pedir, é rezar.
Por meio da oração, nos são dadas as graças para praticar a virtude, para perseverar e progredir na vida espiritual. É pela oração que alcançamos os favores de Deus para a nossa vida material e obtemos força para enfrentar as dificuldades desta existência terrena, com ânimo, coragem e esperança.
Cumpre, portanto, rezar sempre. Porém, devemos fazê-lo por meio daquela que é nosso modelo também no exercício da oração, Maria Santíssima. Abaixo do próprio Jesus, nenhuma outra criatura foi mais perfeita no rezar a Deus. Pelo que diz São Boaventura, ninguém melhor que Maria nos pode servir de exemplo e ensinar a necessidade que temos de perseverar na oração.
Primeiramente, como nos ensinam os autores marianos, a oração da Virgem foi toda recolhida e sem distração alguma. Isenta, por vontade soberana de Deus, do pecado original, estava também livre de qualquer afeto terrestre e de todo movimento desordenado. Por conseguinte, todos os seus sentidos estavam sempre em harmonia com o seu espírito. Assim, a sua bela alma, livre de todo empecilho, elevava-se incessantemente a Deus, amava-o sempre e crescia sempre nesse amor. Sua oração foi, pois, contínua e perseverante. Desde o ventre materno, no primeiro instante de seu ser, Nossa Senhora teve seu pensamento posto em Deus, louvando-o, pedindo e rezando.
Quando ainda tinha três anos, para melhor se aplicar à oração, quis encerrar-se no templo, e ali, além das outras horas destinadas à oração, levantava-se sempre de madrugada para orar diante do altar do templo.
E assim Ela continuou em todos os momentos de sua existência, sobretudo nos mais marcantes. Foi quando rezava e meditava nas palavras da Escritura, recolhida em sua casa de Nazaré, que Maria recebeu a visita do Anjo Gabriel e foi convidada a ser a Mãe do Salvador. Foi quando se achava em profunda oração, no estábulo de Belém, que Ela trouxe ao mundo o Menino Jesus, o Deus feito Homem.
E aos pés da Cruz, quando Nosso Senhor morria pela redenção da humanidade, Nossa Senhora estava de pé, em oração constante, oferecendo ao Pai Eterno a vida de seu Filho, certa de que o Céu e a salvação estavam sendo conquistados para todos nós.
E foi também no momento em que Ela rezava junto com os discípulos de Jesus, reunidos no Cenáculo, que o Espírito Santo desceu sobre eles e se operou o maravilhoso milagre de Pentecostes, dando início à expansão da Igreja Católica pelo universo.
Numa palavra, toda a vida da Santíssima Virgem foi uma oração contínua. Semelhante ao incenso, de que fala o salmista, que se evola graciosamente até os céus, levando consigo as orações dos fiéis que a Ela estão unidos. É a águia real levando em suas asas poderosas as aguiazinhas que ainda não sabem voar. Como era forte a oração de Maria, ainda na terra! E, como conclui Santo Alberto Magno, Ela foi excelentíssima nesta virtude, iluminada continuamente pelos fulgores de sua oração sublime. Depois de Jesus Cristo, foi Nossa Senhora o traço de união mais vigoroso que uniu a terra aos céus. Por isso foi proclamada bem-aventurada, porque escolheu a melhor parte, que ninguém lhe poderá tirar.
Felizes de nós se soubermos imitar essa tão piedosa e bendita Virgem! Se Maria, tão santa e imaculada, foi tão amante da oração, quanto mais a devemos amar nós, que estamos tão propensos ao mal e temos inimigos tão fortes a combater – em nosso íntimo e ao nosso redor!
Portanto, a exemplo de nossa querida Mãe, habitemos com os nossos afetos no céu, nunca percamos de vista as coisas de Deus. Façamos da oração o nosso maior sustento nesta vida, o vigoroso alimento de nossa alma, para alcançarmos a gloriosa existência eterna.